tag:blogger.com,1999:blog-7776255594967015806.post1428298907427059288..comments2023-10-31T04:20:23.161-07:00Comments on textos: Liberdade para o quê?alamhttp://www.blogger.com/profile/14817155611392814251noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-7776255594967015806.post-41190115556151656632008-09-30T17:37:00.000-07:002008-09-30T17:37:00.000-07:00As reflexões propostas por ti neste post me fizera...As reflexões propostas por ti neste post me fizeram lembrar de uma entrevista de Dyonelio Machado. Caso não saibas, Dyonelio Machado foi um psiquiatra gaúcho que se aventurou também na política - era do PC do B - e na literatura - seus romances mais célebres são Os ratos e O louco do Cati. Para falar bem a verdade, não gosto de nenhum de seus romances. Mas a entrevista a que me refiro me marcou. Disse ele, a certa altura, que havia herdado a melancolia do pampa, paisagem em que há "horizontes por todos os lados" (ele é natural de Quaraí, na fronteira com a Argentina). Também passei minha infância no pampa gaúcho e, como conhecedora de causa, tive de concordar com ele: o excesso de horizontes é tão angustiante quanto a sua ausência. Há de haver algum limite. O pior é que os horizontes não apenas abundam, como também se assemelham muito entre si. O pampa é plano a perder de vista. Para onde quer que se olhe, há o verde da vegetação e o azul do céu. É claro que de um lado pode haver mais nuvens, de outro, as nuvens podem ter tamanhos e formas diferentes, e de outro ainda, pode haver flores de espécie e cor diferentes das flores do lado oposto. Mas as diferenças são mínimas, de modo que temos uma inevitável sensação de estar perdido pela falta de um ponto que sirva significativamente de referência. E para que haja referência, sabemos, há de haver contraste.<BR/><BR/>A imagem me parece uma bela metáfora da época em que vivemos. Temos milhões de escolhas, mas as diferenças entre elas são mínimas. E o pior é que nos angustiamos ao pensar que, talvez, poderíamos estar mais felizes se tivéssemos feito opção diferente. Ora, que diferença iria fazer se eu tivesse comprado a calça mais ou menos azul ou a margarina com mais ou menos lipídios? Tudo tem múltiplas escolhas: planos de saúde, planos de linhas telefônicas, planos de TV a cabo, formas de financiamento imobiliário...<BR/><BR/>Acredito que antigamente, a felicidade pressupunha - entre outras coisas - a capacidade do sujeito de tirar proveito daquilo que lhe era imposto, já que não tinha muita liberdade para escolher. Hoje, parece-me que a felicidade exige do sujeito uma competência diferente: a de saber tirar proveito da situação que escolheu mesmo tendo de conviver com a idéia de que talvez a sua escolha não tenha sido exatamente a melhor.Ana Maria Montardohttps://www.blogger.com/profile/16943414065270807542noreply@blogger.com