26 setembro 2000

O país do vôlei

No vôlei está dando quase tudo certo. Shelda e Adriana ganharam a prata. A final com as australianas foi parelha: dois sets, mas 12/11 e 12/10. Sandra e Adriana Samuel levaram o bronze. O vôlei de quadra masculino ganhou de Cuba por 3 a 0.

A dupla masculina de vôlei de praia joga a final. A equipe feminina está qualificada no primeiro lugar no grupo, como a masculina. O Brasil pode ter medalhas em cada especialidade do vôlei.
Estaríamos passando de país do futebol para do vôlei? De fato, seria agradável ser o país de um esporte no qual a gente ganha. Entre Atlanta e Barcelona, já há tradição suficiente para a mudança.

O estereótipo de paraíso tropical de sol e praias comporia a vinheta do país do vôlei na areia. Pelos cartões postais já parece que passamos na praia o tempo todo, seria só praticar um pouquinho: vai sair natural, como as peladas.

Além disso, o vôlei é um bom esporte para o Brasil, fácil de ser praticado nas escolas. Prosperou com o carinho dos torcedores e a dedicação de duas gerações de jogadores e jogadoras. E também graças à tranquilidade de poder jogar sem que, a cada derrota eventual, o Corcovado ameaçasse ruir. Por isso mesmo espero que a passagem do país do futebol à terra do vôlei não aconteça tão cedo.

Domingo de manhã, na praia de Coogee, um grupo de australianos organizava uma pelada. Estava sentado na mureta, vestindo uma camiseta da torcida brasileira. Vêm perguntar: "Brazilian?" e querem que eu jogue. Acham que recuso só por me sentir superior. Mal podem imaginar que toquei em minha primeira bola de futebol aos 16 anos, num colégio do arcebispado de Milão.

Não adianta: apesar da eliminação da seleção, brasileiro para eles segue significando bom de bola. Ainda ontem, um simpático motorista de táxi (e mal informado) não acreditava de jeito nenhum que a seleção brasileira estava voltando para casa.

Escrevi ontem que, se pararmos de pensar que somos por natureza o país do futebol, talvez seja possível treinar e jogar melhor.

Agora, todos conhecem a história do rapaz um pouco desmiolado que um belo dia parou de acreditar que ele era um grão de milho. Foi liberado e ia para casa. De repente volta ao hospital: "Eu sei que não sou um grão de milho, mas vocês informaram às galinhas?". Acontece também com o futebol: os outros acreditam em nosso delírio de grandeza.

Será que daqui a pouco, em qualquer praia do mundo, se formos identificados como brasileiros e convidados para um jogo de vôlei, vamos ter que lidar com a expectativa que um mestre enfim entrou em campo -tipo: vamos ver do que ele é capaz?

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