Acompanhei as dificuldades de um jovem que, ao terminar sua formação, saiu à procura de um emprego, não encontrou e, enfim, entrou em algumas frias (felizmente não graves).
Buscando trabalho, ele esbarrou em recusas que só os jovens recebem. Os entrevistadores apreciavam seu diploma, gostavam de sua apresentação e perguntavam: "Você tem experiência?". Meu jovem amigo sentia-se num círculo vicioso: era rechaçado por falta de uma experiência que nunca poderia adquirir, pois não conseguia emprego justamente porque lhe faltava experiência.
Parece um pretexto para condenar os jovens a um salário simbólico. Eternos estagiários, eles seriam obrigados a trocar seu trabalho pelo "privilégio" de aprender o ofício.
Mas não é só isso: nossa cultura, em princípio, venera a experiência. Não poderia ser diferente. Salvo em momentos nostálgicos, duvidamos das sabedorias sagradas ou ancestrais. Preferimos confiar e acreditar nas coisas em que podemos colocar o dedo e o nariz. A autoridade, em suma, desertou a tradição e veio para a experiência -o que permitiu, entre outras coisas, o nascimento da ciência moderna: a Terra não é chata porque Ptolomeu disse, é redonda porque a gente pode dar a volta.
Essa mudança cultural alterou as hierarquias sociais, mas não as aboliu -ao contrário-, pois a experiência é cumulativa: há sujeitos que têm mais experiência e que, portanto, gozam de uma autoridade comparável à dos sábios tradicionais. Ou seja, acabaram as hierarquias fundadas nas diferenças de castas, nas inspirações divinas ou nos saberes esotéricos, mas foi promovida uma outra hierarquia, fundada na autoridade conferida pela experiência.
A hierarquia da experiência é perfeitamente adaptada à sociedade moderna. Uma das antigas instituições prospera até hoje: a família. Ora, para manter a hierarquia no núcleo familiar, o critério da experiência é perfeito. Ele justifica, de maneira aparentemente racional, a autoridade dos pais sobre os filhos. Os adultos sabem e podem dizer o que se deve fazer, porque eles viveram mais, já estiveram na mesma situação etc.
Se sou um adolescente, como afirmo minha liberdade? Sou obrigado a me aventurar em terrenos completamente novos. Para me esquivar da autoridade dos pais e dos adultos, tento fazer algo que não esteja no campo de experiência dos que me precedem. A novidade, a originalidade tornam-se verdadeiros valores, porque prometem libertar-me da tirania da experiência dos outros. Se fizesse algo que ninguém nunca fez, quem poderia ditar minha conduta, dizendo-se sábio e experiente?
Para escapar à tirania da experiência dos outros, devo procurar maneiras de viver tão singulares que ninguém (imagino) se sentiria autorizado a invocar sua experiência para dar-me conselhos. Se, a cada dia, me enchesse de mescalina ou de LSD, os pais poderiam discordar radicalmente, proibir, punir, mas não viriam se meter em minhas toxicomanias com o argumento de sua experiência (a não ser que eu seja filho de Timothy Leary).
Também posso escolher o crime. Os pais poderão discordar até o desespero, mas, quando estiver vivendo na prisão, de qual experiência eles poderão prevalecer-se para sugerir condutas?
Recomendação aos pais de adolescentes: se, discutindo com seus filhos, você achar bom evocar a sabedoria que vem de sua experiência, seja humilde e modesto. Quanto mais você justificar sua autoridade pela experiência, tanto mais seu rebento estará a fim de aventurar-se por terrenos pouco ou nada mapeados.
P.S.: Por coincidência, li nestes dias (e recomendo): "This Is the Beat Generation" (Eis a Geração Beat, publicado em 1999, edição de bolso em 2001), de James Campbell. É a história de um grupo de jovens poetas, escritores e vários perdidos que, na América dos anos 40 e 50, inventaram uma rebeldia que consistia em colocar o pé na estrada, tirar a roupa, beber, drogar-se e não saber direito se é para transar com pessoas do mesmo sexo ou do outro. Todos, Kerouac, Burroughs, Ginsberg, parecem frágeis, banais e tristes (além de preocupados em encontrar um editor).
No fim dos anos 50, a geração beat cedeu seu lugar aos "beatniks", inspirados pelos beats e tão fora do mundo quanto o esputinique (sputnik -de onde o nome: beat + nik). Os beatniks dos anos 60 somos nós: os pais cinquentões de hoje, que voltaram de Woodstock e acalmaram-se, entrando nas fileiras.
Os filhos dos beatniks (nossos filhos) estão com um problema. Nós, seus pais, somos muito legais: só queremos fundar nossa autoridade sobre o patrimônio de nossas experiências passadas. Com isso, imaginamos conquistar a simpatia, a admiração e o respeito amigável de nossos filhos.
Assim, conheço um jovem que, surpreendido na hora de acender um baseado no seu quarto, teve direito ao relato detalhado da expedição do pai ao México, 30 anos atrás, para experimentar cogumelos alucinógenos.
O que esse adolescente terá de inventar para que seus atos escapem à autoridade (benévola, mas asfixiante) da pretensa experiência paterna?
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